"Os avós são mestres de uma arte esplêndida e rara: a arte de ser.
Os avós sabem tomar um mero encontro quotidiano numa apetitosa celebração.
Sabem olhe e olhar-nos sem pressas, vendo-nos espaçosamente mais adiante.
Sabem dar valor às coisas de nada.
Nunca consideram que quando se entretêm conosco estão a perder tempo, muito pelo contrário.
Sabem que o amor se dá bem com essa gratuita condivisão.
Os avós são docentes silenciosos, mesmo se muito tagarelas.
Os avós parecem distraídos, e isso é bom.
Os avós caminham a nosso lado sem pressa.
Têm tanto de distante como de próximo no arco do tempo.
Têm uma sabedoria que se expressa por histórias calorosas e não por conceitos.
Têm uma memória que nos parece inesgotável, cheia de aventura, de bagatelas e detalhes para nos divertir.
Têm armários carregados de objetos que nos põem a sonhar.
Apresentam-nos a gostos e a sabores que passamos a identificar com eles.
Os avós já foram muitas vezes aos lugares onde nos levam pela primeira vez.
Chamam a atenção para coisas incalculáveis como a forma de uma nuvem ou a cor de una flor.
Ensinam-nos com serenidades colocando-se ao nosso lado.
Nunca acham despropositada a fantasia, nem o medo nem os mimos.
Tem o sentido das pequenas coisas e colos onde nos cabem as grandes.
Eles não separam, como o resto das pessoas, aquilo que é útil daquilo que é inútil.
Fazem-nos sentir que é assim, que já passaram por isso e que existe uma solução que nos vão revelar, só a nós, como um grande segredo..."
in "Revista", 9 Novembro 2013
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