"Pode parecer estranho, mas a certa altura agarramo-nos à dor como se ela fosse um heroísmo e pomo-nos a expor feridas como quem exibe condecorações (...)
A nossa cabeça de pessoas crescidas é complicada (...)
Descobrimos que há um prazer em listar achaques e tradições, e se a minha chaga puder ser maior do que a tua tanto melhor, isso reforça o meu estatuto.
A verdade é que, se não tomamos atenção, a desgraça intima torna-se um escazelado pódio onde nos blindamos (...)
Muitas vezes aproveitamos a dor para nos instalarmos nela.
Preferimos ficar a esgravatar na ferida, e comer diariamente o pão velho da própria maldade, em vez de termos sede de beleza, desejo de outra coisa."
José Tolentino Mendonça, in "Revista" de 19 Outubro 2013
do Jornal Expresso
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