"Algumas situações catastróficas convidam à clareza, explodem em fracção de segundos: partimos uma vidraça com a mão (...) Alguns pontos, gesso, ligaduras e desinfectante resolvem e aliviam as feridas.
A Depressão, no entanto, não é um desastre súbito, assemelha-se mais ao cancro: a princípio, a sua massa tumoral nem sequer é visível a um olhar cuidadoso, até que um dia - pum! - lá está o enorme nódulo mortífero, de 3 quilos, alojado no nosso cérebro, estômago ou omoplata, e isso que o nosso corpo produziu está realmente a matar-nos.
A Depressão assemelha-se muito a essa situação: lentamente, ao longo dos anos, acumulam-se dados no nosso coração e cabeça, incorpora-se no nosso sistema informático para a negatividade total que nos faz sentir que a vida é cada vez mais insuportável.
Mas nem sequer sentimos a sua chegada, pensamos que é normal, que tem a ver com a idade (...) e um dia damo-nos conta que a nossa vida é simplesmente horrível, que não vale a pena, que é um horrer e uma mancha negra no terreno branco da existência humana.

"Uma manhã acordamos com o medo de ter de viver..."
in "Psicologia da Depressão"
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